grupoema

hoje sou simplesmente espelho

superfície de água

e tento capturar os rostos

sorrisos gestos olhares

que apenas reflito sem compartilhar

primeiro foi a lua

de um sorriso branco amigo

de suave malícia e gestos

de caminhar ao lado ternamente

adenauer

depois foi aquele menino

já tão sofrido por isso mesmo

velho

quase irmão

ou filho

de quem falamos reclamamos

discutimos criticamos ensinamos

e aprendemos tanto

naldo

e o outro tímido

esquivo

de sorriso triste

e olhar bonito

amanhecendo em poesia

de protesto e carícia

amarildo

e o escorpião venenoso doce

sempre ativo e pronto

para se ferir ferindo

tão orgulhoso frágil

tão amoroso quanto o menino

que não deixaram que ele fosse

péricles

e aquele de quem sou o oposto

pois é o sentido e a certeza

do próximo passo ser

o porto seguro que lhe falta

uma ternura justa e versos

palavras de faca para o que não é

claridade e símbolo

nestor

eis que que chega um trem

que não corre nos trilhos nem paralelo

à cidade e à selva invade

territórios florestas ruas casas

e transforma a vida

em sentimento vivo quase

um deus menino

nilo

ela é como uma casa

se arrumando como um convite

dito com os olhos sorrindo

com outras palavras

meiga mãe pantera

meiry

dirão com que fosse o outro aquele ausente

sério de muitas línguas pintor

de vozes silêncios enigma imagens

e pulsações novas da palavra

em coração aberto mas escondido

paulo

ele é o que o momento traz

à praia dos seus gestos diferente

de sempre e igual

ao que vai ser ontem ou tendo sido

amanhã não pode deixar de ser

valente júnior

e quem me foi apresentada antes

de ver quão frágil é

seu rosto sob o sorriso e a pulsão

do seu sexo disposto a dominar e ferir

para não ser mais sacrificada no plural

suely

e hoje onde estou

aqui longe daqueles tão perto

que escreveram seus nomes em mim

no meu corpo

e não leio

exceto um poema triste

que fizemos nem sabíamos

e vinha assinado saudade

como então reencontrá-los

se foi em mim que se perderam

e nunca estarão mortos

nesse amor com que os tenho

e por onde escapam

da minha mão carinhosa

salvador 1983

ps: são todos pessoas reais vivas (exceto o naldo que cometeu suicídio)

todos poetas e amigos todos fizemos parte do coletivo grupoema que na década de oitenta recitávamos poesia em shows nas praças de salvador em barzinhos e eventos publicávamos livros e folhetos com nossos poemas e ficamos mais conhecidos por que fazíamos à noite grafites pelas ruas soteropolitanas

Francisco Zebral
Enviado por Francisco Zebral em 18/02/2014
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T4695774
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