QUE PENA

Eu estava sentado na grama do campo vendo passar, no céu, os pássaros.

Eu pensava nas estrelas, mas que pena, só havia o sol.

Eu via um mundo colorido à minha frente, mas tudo era ilusão.

Eu queria ver uma luz diferente, forte como a luz de um farol, mas que pena, ainda era dia e as luzes não se acenderam.

Eu estava sentado na grama do campo, vendo passar por mim, borboletas maviosas.

Eu amava as farras, as diversões, mas eu não tinha alegria na alma.

Eu vivia minha vida, eu queria o mundo, mas o mundo não me queria.

Eu estava sentado na grama do campo vivendo e revivendo um drama.

Eu estava sozinho, queria refletir, mas era impossível.

Eu era fraco para os fracos, conquistando os fracos.

Eu era pobre para os pobres, conquistando os pobres.

Eu queria ser cantor para os cantores, para conquistar os cantores.

Mas que pena, ninguém me quis, eu não fui aprovado.

Eu estou sentado na cadeira da sala vendo passar, nos pensamentos, as lembranças de ontem.

Eu penso nos sofrimentos passados e sinto-me amargurado.

Eu vejo um mundo real, cruel, feito de dissabores.

Eu vivo na escuridão da carne, sem a luz do espírito.

Eu estou sentado na cadeira da sala, vendo partir para sempre as esperanças.

Eu não tenho mais desejos de diversões, nem espírito de alegria.

Eu quero o mundo, mas que pena, o mundo não me quer.

Eu estou na sala, sentado na cadeira vivendo e revivendo uma saudade.

Eu estou sozinho, não quero pensar, mas minha mente lateja e me obriga a ver o passado negro.

Não tenho coragem para levantar e levar a coragem que vai me levar.

Não tenho certeza do certo ou errado.

Tudo parece muito escuro; a luz das estrelas, o sol, o farol, todos sumiram. Apagaram suas luzes.

Perdi minha alegria. Sou triste como os tristes, conquistando so tristes.

Que pena, eu fui reprovado, ninguém me quer.

Samuel

Rio de Janeiro, 1979.