PESADELO

Tomei a bengala da saudade,
permissão bondosa dos sábios
do passado.
Deuses protetores do pecado.
Com a bengala desço a escada
que a porões obscuros me leva,
onde não há mentira, nem verdade,
esparsos rasgos de luz na treva.
Vacilo, diviso vultos.
O nome não se liberta dos lábios.
Tenho medo. Minha mãe parte,
meu pai não me reconhece.
Sou menino entre adultos.
Há um vento frio e um espelho
quebrado.
Há uma culpa e, numa mão qualquer,
algo que lembra um relho.
Feridas porejam sangue, o corpo estremece.
Picasso comporia uma obra de arte
sem derramar uma lágrima sequer.

 
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 21/02/2014
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