Contradição

Passatempo que passa lento

Leva tormento além do vento

Sopra no espaço palavras ácidas,

Atropela o limite com insana valentia.

Anseia vivência mais abstrata

Jorra o redemoinho de cores altivas,

Um céu estelar sustenha o lusco-fusco

Para brilhar sobre a trilha da ira

Que confunde o rosto dos inocentes

Marcados sensivelmente

Pela canção que toca lenta nos ouvidos,

Com gotas de solidão a derramar devagar

Sobre a aura casta que abriga o tempo.

Quem caminhar sobre a areia fina

E expor sua face à bruma leve da brisa,

Há de sentir o fluxo inerte do cotidiano

Que se deixa levar e deixa para trás,

As prisões dos pensamentos soturnos

Que insistem em denegrir uma era

De exultações cobertas por alegorias

E vicissitudes que estreitam os caminhos.

Mesmo assim, o tempo corre, lento...

Numa eterna contradição,

Como se todos tivessem tempo

Para as injúrias ou tristes lamentos,

Na atmosfera carregada do torpor dos incensos.

Vãs cadeias que apertam os pulsos,

Pois há de soltá-los logo adiante,

Já que o futuro é agora e esvaiu-se,

Como uma onda que quebra na praia

Para recomeçar uma busca constante

Sempre a contemplar o momento por vir

Tornando escravas do relógio,

As mãos distraídas que constroem sua sorte

Seguem esquecidas e enfraquecidas,

rumo a morte...

Prontamente ou mais adiante,

Para descansar eternamente

Nos braços do tempo, infinitamente...

Lú Garcia
Enviado por Lú Garcia em 02/09/2005
Código do texto: T47034