Cerebrastémico

Aquele que, inócuo, ousar,

Torneá-la por prazer,

Maleá-la nos seus dedos

- Até a alma lhe tolher! -

Levando-a aos degredos

Frios e abismais do vagar;

Aquele que a prescreveu,

Ou reduziu-a ao nada,

Criando um mofino orto

- Frases bafias, descarnadas... -

Num canto acendrado e morto,

Um hino de escravo ateu;

Aquele que desafiou

O poder da Gravidade,

E em grilhões a envolveu,

Sem qualquer salubridade,

Levando-a ao himeneu

C'as vestes que lhe esgarrou;

Aquele que foi demente

De lhe roubar a leveza

Do canto Real dos Versos,

Foi despojando a beleza,

Esquartejando reversos,

coalhos de sangue morrente...

E eis-te, poeta, na masmorra

Das tumbas negras, mundanas,

Sem poesia, sem fanal...

E o bendito da "profana"

- Teu ergástulo fatal -

Vinga na tua madorra!...