Enredo de uma lágrima

À noite escura em correnteza

Surge e vem tão cautelosa

Tal o orvalho da natureza,

Correr-me a face, silenciosa.

Anda sem rumo, sem uma rota

E entristece-me o olhar

Uma ferida em água que ora brota

E que custa a evaporar.

Tem um toque tão frio

Em parecer a um glacial

E se revela em véu sombrio

Sorvendo-me a dor, meu bem letal.

O amargo é seu sabor

E ilusão é o seu cheiro,

O passado é seu motor

E a tristeza, um passageiro.

Tão impossível nos é crer

Que em gota tão cristalina

Seja tão fácil de perceber

Os martírios de nossa sina.

É uma mostra sentimental

Que se liberta de um cativo,

Um caminho que sem final

Busca início sem um motivo.

Talvez uma saudade seja

Dos que já o tempo levou consigo,

Vem a lembrar-me que sempre veja

Que suas lembranças estão comigo.

Porém, a isso nós choramos

Porque as lágrimas nos purificam,

As mágoas expressamos,

De nossas faces se retiram.

Seu mistério ainda segue

Enquanto a sinto tocar-me o peito

E a vejo ir-se antes que seque

Ao coração novo que me há feito.

Agora somos uma fusão

Do nada ou de tudo,

Mas sem a incompreensão

Da lágrima que me rege o mundo.

E se insistes, ó doce choro

Em adornar-me esse momento,

Suga-me a vida, eterno soro

E te abraces a quem me ampare nesse tormento.

Vitor Barros
Enviado por Vitor Barros em 03/09/2005
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