Alvas cortinas

Janelas de alvas cortinas

chão encerado, toalha branca

cobrindo a grande mesa colonial.

Imponentes cadeiras,e nas paredes

retrato de um sisudo ancestral...

Sala impecável,perto da rua

de onde se ouvia as vozes amáveis

dos passantes...e risos cristalinos

das crianças brincando de amarelinha.

E,amarelas eram as flores dos vasos

quebrando a seriedade do jacarandá.

Tudo luzindo de perfeição....

naquela sala de minha infância:

o perfume das flores misturando-se

ao cheiro da cera recém passada

e sempre alguém providenciando

que nada saísse de seu lugar...

Havia uma antiga cristaleira,

de intocáveis peças,sempre reluzentes...

e, uma regra implícita

de que só podia ser apreciada de longe..

a não ser, quando a especialista da limpeza

viesse, solene, abri-la

com sua chavezinha encantada...

E nós, as crianças nos deliciávamos

com todos esses pequenos cerimoniais

das coisas proibidas ou permitidas

só em momentos muito especiais...

Dessas coisas todas eu me lembro...

Talvez eu tenha me esquecido.

De alguma lágrima vertida em silêncio

de um temor infantil no meio da noite...

de alguma incompreensão adulta

maculando nosso mundo perfeito...

Mas tudo que vale a pena lembrar

encerrava-se na sala de alvas cortinas

de onde ouvíamos,felizes, a vida passar...

Mareluz
Enviado por Mareluz em 16/03/2014
Reeditado em 29/03/2024
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