Alvas cortinas
Janelas de alvas cortinas
chão encerado, toalha branca
cobrindo a grande mesa colonial.
Imponentes cadeiras,e nas paredes
retrato de um sisudo ancestral...
Sala impecável,perto da rua
de onde se ouvia as vozes amáveis
dos passantes...e risos cristalinos
das crianças brincando de amarelinha.
E,amarelas eram as flores dos vasos
quebrando a seriedade do jacarandá.
Tudo luzindo de perfeição....
naquela sala de minha infância:
o perfume das flores misturando-se
ao cheiro da cera recém passada
e sempre alguém providenciando
que nada saísse de seu lugar...
Havia uma antiga cristaleira,
de intocáveis peças,sempre reluzentes...
e, uma regra implícita
de que só podia ser apreciada de longe..
a não ser, quando a especialista da limpeza
viesse, solene, abri-la
com sua chavezinha encantada...
E nós, as crianças nos deliciávamos
com todos esses pequenos cerimoniais
das coisas proibidas ou permitidas
só em momentos muito especiais...
Dessas coisas todas eu me lembro...
Talvez eu tenha me esquecido.
De alguma lágrima vertida em silêncio
de um temor infantil no meio da noite...
de alguma incompreensão adulta
maculando nosso mundo perfeito...
Mas tudo que vale a pena lembrar
encerrava-se na sala de alvas cortinas
de onde ouvíamos,felizes, a vida passar...