Além de toda razão
Quando a noite caiu, eu te olhei
e vi uma bela imagem...
desenhando-se na escuridão.
Ali flutuava a nau da poesia
em que decidi embarcar,
além de toda razão...
Noite adentro, madrugada afora,
mantive tua imagem sem retoques
e os versos inundaram todo espaço
ocupando o vazio assustador
então não precisei de vãos motivos
para inventar um grande amor.
Assim, quando chegou o dia
e os primeiros raios de sol
vieram clarear a tua imagem
o mal já estava feito:
o bem querer já havia plasmado
tudo que o ventre da noite
silenciosamente gerou.
Então, permiti que a luz mostrasse
a crueza da imagem que eu criei.
E, ao meio dia, sem disfarce
apareceu tua verdadeira face
Que sob o sol ardente me seguiu
como sombra de mim mesma...
até o entardecer...
E, quando, de novo, a noite caiu...
eu revi, fascinada, tua bela imagem
refazendo-se na escuridão...
Ali me aguardava a nau da poesia
em que mais uma vez embarquei
além de toda razão...