Eu, parte do mundo...

Já nasci com a alma envelhecida.

E não há como ser diferente.

Trago no brilho dos olhos toda a bagagem já vivida.

E talvez seja isso que diferencie minhas histórias.

Gosto de conta-las em versos,

Ou com certo ponto de vista.

Não há inspiração todo o tempo.

Pelo tempo ser curto, certas vezes.

Com alma envelhecida, posso dizer,

Que grande parte do que vejo não me assusta.

Talvez me indigne.

Ou nem me faça cócegas.

São tantos fatos trazidos como filme

Que o que vejo é quase normal.

É como se já tivesse passado

E estivesse apenas revivendo...

Contudo, embora não me assuste com as coisas rotineiras,

Não é tudo o que me seduz.

Seduz-me a inteligência e a boa educação.

Gente educada é quase um extraterrestre, nos dias de hoje.

E uma palavra bem posta, encanta-me.

Talvez seja por isso que me tornei amante das letras.

Por ver o mundo sem tanta “coadjuvância”.

Creio muito no amor.

Creio que seja ele nosso único elo com o infinito.

O passaporte de embarque rumo à felicidade, ao nirvana.

Outra coisa que me seduz é a alma requintada.

Pode-se não ter pão e leite, todos os dias a matar a fome.

Mas, o refinado olhar ao mundo á volta é nítido.

Quando digo refinado, esclareço,

Não se trata do luxo e da ostentação.

Mas, da boa utilização do que se tem e adquire.

Afinal, de nada adianta ter ouro na maçaneta da porta,

Se debaixo do capacho há sujeira de toda uma vida.

Amo bons livros, que traduzam de certa forma um pouquinho de mim.

E confesso que construir gradativamente uma biblioteca particular é maravilhoso!

Ver a estante se enchendo, pouco a pouco,

É quase que juntar moedas no porquinho.

A diferença é que é um tesouro permanente.

Não sou de fácil entendimento.

Nem quero sê-lo.

Não sou bula de remédio ou receita de bolo.

Vim por missão distinta.

E busco eu mesma tal distinção.

Trago a inspiração subentendida.

Para ser decifrada e degustada gole a gole, mordida a mordida.

Cultivo e cultuo o ser humano, de forma literal.

A humanidade anda se esquecendo de ser humana.

Uma música bem baixinha, em noites de insônia...

Fazem-me uma companhia e tanto!

Talvez servida de um copo de Coca-Cola ou leite branco gelado.

Nunca me opus a quase nada.

Não por covardia.

Mas por buscar certa paz de espírito.

Quando me opus, o fiz suavemente.

Procurei não ferir os meus quase nunca.

A dor de uma ferida mal cicatrizada é tamanha!

Já sentida em minha pele.

E talvez por não querer feri-los, já derramei salgadas lágrimas.

Ora arrependidas, ora sentidas ao extremo.

Não sorrio todo o tempo.

Nem sisudio meu semblante para quem não merece.

Amo o sorriso da criança que me chega, pela manhã.

E retribuo com cócegas na barriga, ou um leve toque no nariz.

Gosto das coisas simples, sem frescura.

Contudo, a simplicidade pode sim vir adornada.

Um glitter no cartão de boas vindas é bem mais aconchegante.

As danças e as entonações vocálicas musicalizadas, guardo.

Para os momentos de nostalgia.

Para quando os anseios e as doces lembranças mostram a que vim.

Vim pelo amor.

Só por ele.

Como forma de salvação.

Vim cumprir tarefas, resgatar karmas.

E senti-los n’alma em dias de céu cinzento,

Certas vezes marejam meus olhos.

Tenho poucos amigos.

Mas os que tenho são meus.

Por amor e cumplicidade.

Não sei quanto tempo me resta.

E nem ando me preocupando mais com tal questão.

Se eu partir amanhã, saberei que era a hora.

E que fiz o melhor que pude.

Talvez eu deixe saudades.

E quem me leia recorde-se dos meus versos, das minhas histórias.

Entrego-me de corpo e alma.

Por crer na força d’alma.

E flutuo, como faço agora...

Ao deixar as mãos deslizarem no papel,

Contando mais um pedacinho de mim...

Deixando à eternidade certa forma de sê-lo, de fazer-me parte do mundo.

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 25/03/2014
Código do texto: T4742709
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