Se eu quisesse fugir...

Descerraria meus portões para aguardar os vultos,

guardiões do meu passar.

Carregaria o mar, escurecendo o sol,

ocultando a lua, apagaria estrelas

e levaria no peito, no vento da alma,

os sons dos passarinhos.

Cessariam as notas de todas as melodias

e o vazio cairia sobre mim.

Deixaria emudecer a minha voz,

partiria sem o brilho no olhar,

o amargo invadiria minha boca

por entre as ruínas do meu jeito de sonhar.

Mas se eu pudesse fugir,

como iriam revoar as gaivotas sem o mar,

sem o calor solar sobre suas asas?

Se escurecessem as estrelas, ficasse a noite sem luar?

E a brisa das madrugadas estagnada,

o dia sem querer nascer,

os vôos dos passarinhos sem entoar acordes celestiais?

Se eu calasse minha voz,

se meus olhos não refletissem outro olhar,

andarilha perdida sem o doce de um sonho,

não ouviria alguma música,

tudo seriam sombras na viagem sem voltar.

Se eu quisesse fugir, não poderia...

Fugir de mim seria fugir sem coração

e sem a esperança que me faz amar.

Se eu quisesse fugir, não poderia...

Fugiria de mim, sem ser e sem lutar.

Sem vencer e sem sequer tentar...

Ida Satte Alam Senna
Enviado por Ida Satte Alam Senna em 04/05/2007
Código do texto: T474290