O ANJO DA POESIA

O anjo da poesia

todos os dias

vem me visitar.

Não tem hora para chegar.

Quando menos o espero,

vem de surpresa,

chega de mansinho,

e vai entrando sem pedir licença,

feito Irene no céu.

Às vezes, chega na hora do banho.

É quando as gotas d’água viram versos,

e escorrem de não querer se enxugar.

Banho de poesia até parece

banho de luar.

Tem horas que estou na cozinha,

e o anjo da poesia me ajuda no tempero.

Os poemas têm um doce aroma,

um cheiro verde

de infância, que evola pelo ar.

Outras vezes, o anjo da poesia

vem quando estou dormindo.

Aí, só me resta escrever poemas de sonho.

Nunca vi o anjo da poesia.

Mas eu o sinto.

Quase o vejo assim de asas longas,

fortes e macias, boas de se voar.

Imagino que ele tem olhos de estrelas,

um brilho de sol,

um cheiro de terra molhada de chuva,

e perfumes de jasmim.

Sua voz é o canto da brisa

murmurando paixões e delírios,

soprando ternuras pelas campinas sem fim.

Imagino que ele tem a brancura do lírio.

E tem as cores do arco-íris espiando o pôr do sol.

Um jeito de orvalho a pratear o dorso das folhas.

Tem dias, aliás, noites, em que ele é apenas um clarão de luar.

Outras vezes, é o silêncio das pétalas da açucena,

o mesmo silêncio dos botões de rosa,

se abrindo bem devagar.

Ainda hoje,

o anjo da poesia

veio me visitar.

Então, soprou-me um verso.

E eu fiquei assim, menino,

feito um beija-flor parado no ar.

Depois, tomou a asa do vento e partiu.

Mas sei que ele vai voltar.

Pois, todos os dias,

o anjo da poesia

vem me visitar.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 27/03/2014
Reeditado em 31/07/2014
Código do texto: T4745408
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