INQUIETUDE
Hoje, o vinho me caiu bem
e a comida, num justo paladar,
digeriram uma tarde
que se fez completa.
Aparentemente...
O som não desafinou.
A letra preferida
coloriu a alma.
Não exatamente...
Mas foi preciso mais!
Onde está o absoluto
que sintetiza tudo?
Mas por que esse desejo
se o curto raciocínio se basta?
A fome de completude e
a sede de totalidade
contrastam-se com a
precariedade do
entendimento.
Maldita percepção
da concreta condição.
Voa o sanhaço
em puro exercício do instinto...
Gateia o felino
em ritual não dissecado.
Mas por que de cada pulsação
exige-se uma explicação?
Especula-se tudo
de modo compulsivo
antinatural,
sobrenatural,
artificial.