Nevrálgica fantasma (o Golpe)
As botas que botaram fora o orgulho do país
Embotaram de tragédia o território nacional
Botando banca, batendo forte com bordunas
A guerra fria que esquentava o couro
Ao mesmo tempo em que afanava o ouro
Se cobria de orgulho e de folhas de louro
Tal qual cabeça de elefante na parede
O prêmio que queriam era por fim a uma rede
Mesmo que fosse preciso matar de fome e sede
Soldaram os olhos dos poetas com maçarico
Para que não vissem
Queimaram a língua dos poetas com ferro em brasa
Para que não proferissem juízo algum
Sumiram com Padres, com virgens, com expertises
Pintaram miséria vestindo fardas e calçando botas
O vinagre brasileiro que tivemos de engolir
Ainda arde nas goelas ressequidas de mortos
que nem sabemos aonde estão
Sem gritos, sem corpos, sem mãos, sem olhos
Somos ainda filhos da tragédia
Pois daqueles cães floresceram democratas de comédia
Que se vestem de glória e até hoje ainda fazem média
Protegidos com seus mandatos e por homens de toga
Numa lógica perversa de extorquir que ainda está em voga
Essa é a herança maldita que nos deu um golpe
É esse o veneno amargo que ainda nos corrói
É esse o reflexo de uma história que não queríamos
É esse o futuro trágico, com o qual teremos de conviver
A dor que se sente na memória
Protagonistas de diversas famílias
Que tiveram interrompidas as suas histórias
Gente que não teve ainda nem o direito de morrer