Ninguém viu
As vezes viver dói tanto...
e não é a vida em si mesma
que é livre de todo mal...
Mas a dor que dilacera
vem de uma vida paralela
inventada a bel prazer
por seres que se esmeram
em ver o outro sofrer.
É de uma sutileza perfeita
esse punhal inventado
com tanta arte e saber,
que, se eximindo sempre
de flagrante delito,
anda aí pelo mundo
ferindo fundo,
sem ninguém perceber..
E quem sente a dor
se cala....quase sempre
pois não há argumento
que leve ao tribunal
um crime sem evidências
sem culpas, sem traços...
onde a prova final
dissimulada e sombria
só mora no coração
de quem sentiu esse mal.
Mas a vida... essa vida que deveria ser
livre assim como um pássaro
sempre bela como a luz do amanhecer,
há de se curar sozinha...
De um mal que ninguém sentiu
de um punhal que ninguém viu...
porque o antídoto está nela mesma...
ali,onde um Deus, quietinho, se escondeu...
e ninguém se apercebeu...