Depressão

Estou num furacão

Nu num furação estou

completamente nu e só

Só a nudez me completa

Não a nudez grega do atleta

Estou nu sem pureza de criança

Estou nu cheio de roupas pesadas

Apertado e preso nas malhas tramadas

Enrolado em trapos, estopas esfarrapadas

Estou sufocado e preso, atado e armado

Cansado de me debater e sofrer e gemer

Sufocado nas tiras das roupas no pescoço

Dos meus bolsos não resta nem um caroço

As sementes caem sem o menor esforço

No vendaval que as espalha por terras frias

Não há pouso para elas na grande azul esfera

Não há onde sobreviva uma hera

Num muro o vento para e eu bato com a cara

Caio no chão seco e frio e cravo os dedos em vão

Escavo como escravo e me firo em calos

No céu, só cinza sem do Sol nem os halos

Nas sombras, ferido e abatido choro

Molho o chão com esperança torpe de criação

As sementes não germinam e há fome agreste

Sofro nos farrapos sem nada que preste

Choro para irrigar a terra sem água no chão

Sofro o desespero sem esperança no desespero

Sufocado por uma opressão

Estou sob grande pressão

Grande e grave tormento

Um abismo

Depressão

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 08/04/2014
Código do texto: T4760587
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