Indiferença
Essa dissimulada indiferença
cai muito mal no poema..
fica talvez melhor
no dia-dia-banal
e desimportante.
Cai muito bem
na mecanicidade da rotina...
Mas jamais combina
com paixão, e sonho,
raiva incontida ou sofrimento.
Indiferença se parece
com a morte
sem se ter morrido...
é um desistir...calado...
E não se escreve um poema
sem estar amando muito
sem estar desesperado...
ou, talvez, enfeitiçado
pelos extremos da vida.
Não se escreve um poema
olhando só para frente
como um zumbi na floresta
caminhando sob as flechas
sem mudar seu rumo...
Não se escreve um poema
deixando que tudo aconteça
sem ser protagonista
ou ao menos, doublé de artista.
E a indiferença...?
Se quiser pode até
entrar no poema...
Fingindo-se de morta
como sempre faz...
Mas ao final
terá que se decidir
entre um extremo ou outro.
Ou se retirar, quietinha,
pra morrer sozinha
num canto qualquer.