Indiferença

Essa dissimulada indiferença

cai muito mal no poema..

fica talvez melhor

no dia-dia-banal

e desimportante.

Cai muito bem

na mecanicidade da rotina...

Mas jamais combina

com paixão, e sonho,

raiva incontida ou sofrimento.

Indiferença se parece

com a morte

sem se ter morrido...

é um desistir...calado...

E não se escreve um poema

sem estar amando muito

sem estar desesperado...

ou, talvez, enfeitiçado

pelos extremos da vida.

Não se escreve um poema

olhando só para frente

como um zumbi na floresta

caminhando sob as flechas

sem mudar seu rumo...

Não se escreve um poema

deixando que tudo aconteça

sem ser protagonista

ou ao menos, doublé de artista.

E a indiferença...?

Se quiser pode até

entrar no poema...

Fingindo-se de morta

como sempre faz...

Mas ao final

terá que se decidir

entre um extremo ou outro.

Ou se retirar, quietinha,

pra morrer sozinha

num canto qualquer.

Mareluz
Enviado por Mareluz em 13/04/2014
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