Obstáculos

Tapar a boca que brada

Com os dedos alquebrados

Obstruir os ouvidos aguçados

Com algodões desfiados

Cobrir as vergonhas

Com trapos esfarrapados

Vendar os olhos que chispam e perscrutam

Com fiapos esgazeados

Tapar o sol com a peneira

Contendo a enchente com uma escumadeira

Todo anteparo, enquanto película

É subterfúgio, lente ridícula

A medida da liberdade está no obstáculo

Pois é entre as paredes que se desenrola o espetáculo

Um rio que flui, fluirá mais fluido

Quando os barrancos entortam o caminho seguido

O papel, essa infinda luta

Da palavra que não se escreve nem se escuta

Forte é a barreira do poema

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