Amarrem o negrinho

Amarrem o negrinho

Prenda-o ao poste

Jogai a primeira e a última pedra

Absurdo ele estar andando por aí

Amarrem o negrinho nos pulsos

E nos tornozelos velozes

Com cordas fortes, laços firmes

Ele não pode pensar em se soltar

Dê-lhes tabefes, chutes, socos, e pauladas

Certeiras

É apenas um inseto

É o verdadeiro alvo

O culpado por tudo

Por esta criminalidade

Por esta insegurança

Pela desigualdade

De uns terem tanto

De poucos terem tudo

E toda gente ser tão lascada

Amarrem o negrinho

Ele é o culpado

E há provas substanciais

Em seu pequeno quintal

Está também amarrada

Uma galinácea fêmea adulta

Que seria almoço de amanhã

Com as batatas do vizinho

Agora, aqueles de gravatas, não.

Aquele que roubou o dinheiro de comprar remédios

Da vovó tetraplégica

Ou o outro que desviou a quantia

Da compra das vacinas de pólio

Ou o bacana que colocou soda cáustica no leite

Nem pensem, pois é pecado.

Deixem estes bem soltos

Pois eles são idôneos, de caráter ilibado,

São lindos, cheirosos e tem os olhos azuis