O CAVALEIRO DE LA BARRE

(Baudelairiana)

No pesado rastejar de gorda serpente

Matizada em prantos, cruzes e medos

Lentamente ia na velha cidade, calada

Permanência de angustias e degredos

Era sombra, féretro ou dor enlouquecida

Mórbido dragão de cabeças insanas

Nas faces uma ânsia de ver a morte,

Vetusta procissão, com seus hosanas

À cerca de vinte passos, apenas

Passa um jovem cavaleiro montado

Altivo em seu cavalo, orgulhoso

Não faz mesuras, segue calado

A turba enfurece-se com o gesto:

Não tirar o chapéu perante o senhor...

Todo aquele pretenso amor revela-se ódio

Nas mãos de carrascos de um deus-feitor

Cerca de vinte anos tinha

Quando, em Paris, por heresia

É acorrentado e preso o cavaleiro

Que teve tamanha ousadia...

E seus algozes, piedosos cristãos

Quem sabe padres, agora santos...

Submetem-no a torturas cruéis e vis

Para não ouvir seus gritos, entoam cantos

Torturado, seviciado e finalmente

Em nome do bom deus, condenado

Tem sua língua cortada a sangue frio

E em praça pública é decapitado

Não satisfeitos, erguem uma pira

E insanamente o corpo é destroçado

Como companhia final, um Voltaire

E o cavaleiro de la Barre é queimado

Era o ano de 1766, século do iluminismo...o corpo decapitado do CAVALEIRO DE LA BARRE é queimado, juntamente com o DICIONÁRIO FILOSÓFICO DE VOLTAIRE...

DARWIN FERRARETTO, 17 DE JUNHO DE 2005

DARWIN FERRARETTO
Enviado por DARWIN FERRARETTO em 06/09/2005
Reeditado em 06/09/2005
Código do texto: T48115