AUTÓPSIA DE POETA
Vejam senhores
no poeta
estes sinais
característicos:
Este verso
cicatriz
rasgada no amplexo
de duas rimas
aliterações desmedidas
corta de vida à vida
o poeta morto
Este outro
ferida pustulenta
transpassa e
explode
num poema
onde a ode
não passa
Mais um:
verso-calo
talvez causado
por um pisão
de seu alter-ego
ou de sua
vã consciência
quem saberá?
Talvez doesse
nas noites de frio...
Examinando melhor
vemos outros:
um efizema verbal,
um verso abortado
ou parido à fórceps
num circunspecto vadio
como o próximo:
Uma úlcera lacerada
perfurada entre tantas
que nascem
a cada dia
Mas este verso
riso sarcástico
mezzo irônico
mezzo clown
que perdura
na face...
O que pode ser?
DARWIN FERRARETTO