Relíquias

Do começo, miro o sofá, a cama vazia, o edredom jogado ao chão

Desde o início, aperto a tecla caps lock

Vejo o SOFÁ maiúsculo,

a CAMA maiúscula,

o EDREDOM maiúsculo,

Jogado ao CHÃO maiúsculo...

Flerto com o descompasso articulado

Caso-me com a teoria conformista

Divorcio-me das tantas incoerências

Refugio-me disciplinadamente

Embora, haja tantas situações minúsculas...

Reparo nas distintas razões razoáveis.

Desde o princípio, contemplo a praticidade

De quando a vida passa rapidamente

Congelo os momentos grandiosos

À reciprocidade...

Quedem as ÁRVORES maiúsculas,

aceleram os movimentos minúsculos

da MÁQUINA maiúscula,

do homem minúsculo.

Repentinamente a textura da pele não tem a mesma cor

A mesma cor não tem a mesma pele

A pele não tem a mesma cor

Da cor da tua pele

Da pele da tua cor

Tingida sutilmente.

Enorme é o curso das águas

O trajeto é minúsculo do curso das águas

O relevo é maiúsculo em quaisquer Direções

O maiúsculo é a direção do teu Relevo

Da minúscula direção no qual relevamos, velejamos.

Rostos minúsculos,

SEIOS maiúsculos,

olhos minúsculos,

ABAJUR maiúsculo

Rostos, seios, olhos, e abajur, são do tamanho declarável

Intenso conhecedor de si

Dispenso tacanhas representações.

O suor, gosto salgado do corpo

suor minúsculo do CORPO maiúsculo

O medo, do medo minúsculo ao MEDO maiúsculo

A primeira façanha, da façanha segunda

Demonstrada pela façanha primeira

É interessante buscar na mão os primeiros pingos de chuva

Roupa molhada, corpo molhado, suor molhado

Na chuva molhada

Interessante mesmo é ultrapassar com leveza os pingos de chuva

Tendo a certeza que os pingos de chuva na palma da mão

É minúsculo, correndo no CHÃO maiúsculo

Meu PENSAMENTO é maiúsculo

Minúsculo é o que você pensa

Não aperte o caps lock agora!

A minha VisÃo é maiúscula e minúscula

Depende da forma que confronto este mundo

(nem tudo que estás entre parênteses é verdade)

Nem quase todas as declarações de amor estão entre parênteses.

Ouço de mansinho o riacho que acabara de me invadir a mente

Outorgada de primeira ordem desses altos calões

Palavrinha, palavra, palavreado, palavrão

Se o corrupto não é honesto

Se o honesto não é corrupto

O que relatar do honesto corrupto

Do corrupto honestamente?

Latitudinal talvez seja o que escrevo

Longitudinal talvez seja o que você inclui como herança

Daquilo que escrevo a espera de se encontrar

Nos pontos cartesianos.

Não sou cantor que canta o que não for pra cantar

Vivendo à custa do sobreviver

O poema que tem cheiro de prosa,

não tem cheiro de pólvora,

não tem gosto de gozo,

ou talvez tenha um pouco das duas...

O que mais me consome?

O que mais venho a refutar?

O que mais me solidifica aqui?

Folhas ao vento...

Miragens...

Sinto a completa hegemonia nascendo

Não sou um sofista autodeclarado

Os sofistas autodeclarados aos quais conheço,

nunca tiveram algo a pronunciar

Já que pronunciavam qualquer coisa

Sem antes pensar em serem exímios apólogos.

Do recomeço, miro a vida por entre o buraco da fechadura da porta

Agora a pouco minha vida se passara minúscula

Durante os tempos perdidos que nunca voltam

Dilatam ou se contraem...

Ou fica na mesma iminência de sempre!

E se em algum momento não sabeis do que falo

Aperte a tecla caps lock

E comece tudo de novo...

(Autor: Carlos André)