Acima das Nuvens

Névoa que encobre meus pés, na madrugada.

Estou de pés descalços, à beira da estrada.

Decidi deixar para trás tudo o que não servia.

E, apenas com uma bolsa pequena, fechei a porta e saí.

O rumo é do vento...

É ele quem me carrega, dia a dia.

Escolhi deixar o passado que não mais me encantava.

E buscar a tão sonhada felicidade.

Na cabeça, o nevoeiro e alguns gafanhotos.

Tudo confuso demais para que me cobrem decisões tão precisas.

Na verdade, a precisão não é das minhas qualidades.

Navego ao sabor da maré.

E, embora digam que navegar é preciso,

Deixar-se levar pelas ondas também é viver.

Sem pressa ou preocupações.

Afinal, o viver pode acabar logo ali, num dobrar de esquina.

Então, me pego observando mais nuvens,

Formando criaturas, caricaturas em meio a elas.

Coisa de quem não deixou a criança d’alma morrer dentro do peito.

Coisa de quem ainda acredita em sonhos.

Afinal, o que seríamos de nós sem eles?

Um emaranhado de vasos sanguíneos e neurônios todos mecanizados.

Sem magia alguma a encantar e embelezar a vida.

Decidi buscar minha felicidade.

Absoluta e sem desejos alheios.

Sou dona do meu nariz.

E sou eu quem deve respirar o meu ar!

Apenas eu.

Sutil ou ferozmente.

Ensandecida ou toda cheia de recatos.

Ser capitã da própria vida é navegar de olhos fechados.

Por saber de cor o caminho a percorrer.

E para não perder a surpresa no final do trajeto.

Cavalgar com as próprias rédeas,

Farejar com as próprias narinas,

É sem dúvida a melhor sensação!

E é para ela a quem quero me dedicar.

Quero sorrir mais gargalhadas escandalosas.

Chorar todas as lágrimas de que tiver vontade.

Tomar banho de chuva no quintal, depois de um dia cheio.

Fotografar gatinhos, paisagens e tempestades.

Quero acordar ao meio-dia.

E adormecer com as estrelas lá no céu, brilhando.

Bebericar suco de groselha e pintar a língua de rosa.

Ser criança aos vinte e poucos,

Adolescente aos quarenta e tantos,

Jovem criatura aos oitenta e muitos...

Quero sapecar beijo roubado.

Dançarolar todo agarrado.

Cantarolar a música preferida.

E estender os braços à loucura da felicidade.

Quero tudo o que for meu.

Embrulhado para presente, bem enfeitado.

Agora a estrada é outra.

E eu, também sou outra.

Com desejos novos.

Com devaneios vários.

E com os pulmões prontos a inalar novos ares.

E assim será, de agora em diante.

Um voo atrás do outro,

Rumo a namorar a felicidade lá, bem acima das nuvens...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 14/06/2014
Código do texto: T4844210
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.