Desventuras de um grão de pó

Vamos chamá-lo de “Creto”

Este nosso velho amigo

Que rola e corre perigo

Que ao vento fez previsões

Leiam bem nas entrelinhas

Tereis vida igual às minhas

Junto a mais de seis bilhões.

Permitam-me descrevê-lo:

Grão de pó, magro, esquisito

Não é feio, nem bonito

Às intempéries resiste

Pula, cai, vira cambota

A maioria nem nota

Mas na verdade ele existe.

Diferente de outros grãos

Este grãozinho se rala

Mas pouca coisa lhe abala

Não pensa, nem filosofa

Nem é dono da verdade

Outra é sua realidade

Se ficar na poeira, mofa.

Vejam só que contrassenso

Um certo amigo de “Creto”

Tinha o desejo secreto

De talvez tornar-se gente

Pois pensava que os humanos

Fossem bem menos insanos

Do que eles são realmente.

Rolando por este mundo

Lá se vai pobre coitado

Às vezes é pisoteado

Corre então muda de rota

Vira poeira de cidade

Sem brilho, só humildade

Virtude que ninguém nota.

Nada sabe, pouco faz

Quando em vez se desespera

Vira bicho, vira fera

Fica triste, anda só

Dorme em monte de rejeito

Mas quase não tem defeito

Porque é só um grão de pó

Meu verso não é de “Creto”

Só retrata um grão pequeno

Que rola o mundo terreno

Nesta vida, neste plano

Quem sabe com sua ajuda

Sua triste sina muda

Se transforma em ser humano.

Aos homens chamo atenção

A todo grão só alerto

Bobo da corte é esperto

Doutor da lei também erra

Previsão se cumprirá

Pois ninguém escapará

Todos serão pó da terra!

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 24/06/2014
Reeditado em 24/06/2014
Código do texto: T4856206
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