EMOÇÃO
Eu vi pássaros
vi flores
vi o mar
vi o céu
e brotaram as lágrimas:
foi por ti emoção!
E quando a terra tremeu
e o sepulcro se abriu
quando os vermes romperam
e saltaram faíscas
emoção
foste tu
que livraste o meu pranto.
Tu quem és
emoção
que vagueias nos bosques?
Por ti estou ávida
sequiosa de luz!
Por ti morro e ardo
numa febre de dor!
Mas não quero que vás!
Eu subi a montanha
a mais alta de todas.
Eu subi onde as águias
construíram os ninhos.
Eu subi e as nuvens
adejavam no chão.
Eu subi!
E a neve se desfez nos meus passos:
e um rio ficou
que era sangue
era luz...
E enquanto tu foste
emoção
após mim
eras tu que guiavas
o meu voo de azul.
Emoção!
És cruel.
Tuas pontas de faca
me traçaram o ventre
foram cruzes e chagas
foi destino afinal.
Mas não vás
deixa estar.
Antes quero de ardor
suspirar no deserto
antes quero de fome
bramir na montanha!
Se vier após mim
o teu rosto sem par
se os teus olhos profundos
me guiarem os passos
se eu ouvir no caminho
tua voz de silêncio
eu não quero mais nada!
Que me importa o deserto?
Que me importam os vermes?
E a sede?
E a dor?
Ora eu vi uma sombra
no oceano de azul.
E uma vaga tremeu
e rebentou a espuma.
Ficou branco o meu sol
e de medo tremeram
as gaivotas em bando.
Porquê uma sombra
no mar cristalino?
Porquê uma nuvem
neste céu de loucura?
Emoção
os teus olhos
eram puros demais
tinham luz em torentes
eram lírios do vale.
Emoção
quem és tu?
Se ouviste o meu grito
se afinal estás desperta
que não morra essa vida
que com ela me mata.
Porque eu sei quem tu és
e sem ti já não sou.