Se

Se eu fosse o vento

Que arrebata as nuvens

E trucida as árvores

E revolve o pó…

Passava sobre ti

Devagarinho

Feita brisa subtil de entardecer…

Se eu fosse a chuva

A torrente

O temporal

Se eu fosse a tempestade

E a inundação…

P´ra ti seria orvalho

Ou gota delicada que desliza

Pela pétala da flor

Que mal a sente…

Se eu fosse o sol vermelho dos verões

O sol terrível da secura

O sol da fome

Se eu fosse o astro

Que ilumina e queima…

Brilharia p´ra ti tão docemente

Como um afago meigo de criança…

Se eu fosse a vida… e a dor… e a loucura…

Se eu fosse todo o mundo…

A ruína… o caos … e o amor…

se eu fosse rainha e tudo meus vassalos

se eu fosse tu…

Oh imensa vastidão do meu desejo!

Oh loucura sem limite do meu ser!

Oh fruto proibido!

Oh solidão!

Se eu fosse Deus

criava-te,

fazia-te só meu.

Numa concha te punha:

uma concha branca

com ruídos de mar…

Se eu fosse espuma,

queria-te gaivota

para abraçar-te no ar

entre o instante em que a onda flui

e reflui…

Se eu fosse céu azul,

tu eras nuvem branca

ou águia…

Oh lágrima que queres brotar

Oh desespero manso do meu peito!...

Olho a moldura do espelho,

O artifício… e só depois a imagem…

Olho e vejo

que os ventos

os sóis

os deuses e os azuis

a espuma e o infinito

estão dentro dessa imagem

que sou eu!

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 08/09/2005
Código do texto: T48678