Cristal

As garrafas de cristal

tremeluziam

e espalhava-se sobre as mesas

o arco-íris

violento

derramado em gotas

de chuva

ou de amargura

Talvez fosse

o soluço

à distância

perdido na planura

desértica

mas com flores

essas flores do deserto

carnudas e belas

flores de carne

com caules de magia

entre espinhos sobre areia

e silvos de serpente.

Derramava-se o castanho.

E o castanho emergia

surgia

tremeluziado fundo cristalino

da garrafa

onde as flores do deserto

eram sombras

e pó.

E até os cactos

(com espinhos e tudo)

eram carícias

ao meu ser dormente

sob o arco-íris

do cristal.

Mas que seja cristal

ouviste?

Não me mostreis

esse vidro mascarado

torturado

arrevezado

não mo mostreis

que eu parto-o!

Eu quero o cristal

e o arco-íris

quero a verdade

transparente

reluzente

iridiscente...

Quero o cristal

das palavras sem amarras

o gume da espada

temperada

no aço vibrátil

táctil...

E depois:

O deserto

e os cactos

os espinhos carnudos

e serpentes.

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 08/09/2005
Código do texto: T48689