Dual

"Hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou.

Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor..."

Raul Seixas

Almas gêmeas,

dois os sexos.

Dois lados de um fato.

Dois pés, duas mãos.

Dois olhos e vários olhares,

dois ouvidos e várias verdades.

Um par de óculos para melhor ver,

sapatos em pares, em pares as luvas.

Duas rodas, a bi-cicleta.

Binário, binóculo, bissexto.

Bissexual.

Dois pontos formando uma reta,

dois pontos explicando uma idéia,

dois pontos de vista; dois de fuga.

Dual é a natureza: quente e fria,

seca e úmida, noite e dia;

dual é o mundo que criamos,

o bem e o mal,

o sim e o não.

O sagrado, o profano.

Então por que nos querem lineares,

únicos, coerentes, indivisíveis?

Por que só somos normais ou insanos,

fiéis ou adúlteros,

responsáveis ou inconseqüentes,

quando a natureza de nossa alma dupla

grita que sejamos tudo

ao mesmo tempo?

A virtude da incoerência.

Sejamos de tudo um pouco,

um pouco de todos em nós.

Não há razão em fazer-se único

e perder nossa melhor parte:

ambas.