Cadência

Foi assim nessa cadência, meu amor

que derramei a vida ao pé da tua:

a busca inevitável

de teu conflito era meu colo,

a dor de tua coragem minha alegria.

Foi assim num instante

de temporária insanidade que,

como o dragão do conto,

compartilhei meu coração contigo

e senti a dor de tua existência

E eras triste como um cão perdido

nada havia em ti que cantasse

nem um azul sequer que iluminasse

ou ventura qualquer que se contasse

ou mulheres que tivesses tido.

Eras solto no ar pequeno seixo

que se atirava ao mar com euforia

ao que o mar apenas ria

de teu enredo suicida

e em ondas o devolvia contrafeito

E foi assim a este menino

com tantos enfadonhos mimos

que dei minha semente amorosa.

Foi assim que floresci e deflorei,

depurada em cântaro de dor:

o menino se cansa e dorme

eu fico velando só,

e depois só eu e o amor,

sem candeias, sem sereno

o calor incandescente,

sem cadência, melodia

o estado natural das coisas

que só eu via poéticas.

claudia lidroneta
Enviado por claudia lidroneta em 05/07/2014
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