Cadência
Foi assim nessa cadência, meu amor
que derramei a vida ao pé da tua:
a busca inevitável
de teu conflito era meu colo,
a dor de tua coragem minha alegria.
Foi assim num instante
de temporária insanidade que,
como o dragão do conto,
compartilhei meu coração contigo
e senti a dor de tua existência
E eras triste como um cão perdido
nada havia em ti que cantasse
nem um azul sequer que iluminasse
ou ventura qualquer que se contasse
ou mulheres que tivesses tido.
Eras solto no ar pequeno seixo
que se atirava ao mar com euforia
ao que o mar apenas ria
de teu enredo suicida
e em ondas o devolvia contrafeito
E foi assim a este menino
com tantos enfadonhos mimos
que dei minha semente amorosa.
Foi assim que floresci e deflorei,
depurada em cântaro de dor:
o menino se cansa e dorme
eu fico velando só,
e depois só eu e o amor,
sem candeias, sem sereno
o calor incandescente,
sem cadência, melodia
o estado natural das coisas
que só eu via poéticas.