Admirável Adelaide (para Vany e Margarete)
Adelaide viu seu
reflexo no espelho.
Mirava olhos que perderam
aproximadamente
290 mililitros de lágrimas.
Tinha um nó na garganta.
Sabia que seu alvo era o homem nu.
Depois, cansou-se,
quis jogar tudo para o alto.
Foi até o alpendre.
Seu pensamento seguia
o caminho do vento
naquela admirável rua nova.
No varal,
na última estação,
secavam sapatos molhados.
Voltou ao quarto e
abriu seu caixote
cheio de missivas amassadas.
No meio de tanto papel,
uma passagem:
Fernando de Noronha,
vivendo sem notícia
e sem vergonha,
como os índios que Cabral não descobriu.
Viu estrelas que caíam
e desejou que seu sonho,
tão simples,
passasse embaixo do arco-íris,
e se tornasse realidade.