ÁGUAS SURTADAS

Quando a manhã principia

E eu desperto, desperta comigo

A sensação que mais me angustia:

Sentir a falta de um ombro amigo.

Quando a noite declina

E eu adormeço, adormece no fundo

Da alma a minha ontológica sina:

Ser um estranho em meu próprio mundo.

Sem fronteira que me limite,

Ou lenitivo que me acalme,

Verto, na vertigem, palavras nunca pensadas;

Bebo, qual bêbado, das ignotas águas surtadas.

Porque eu sou o verdugo que surta,

E que treme, e que grita, e que corre...

A desgraça iminente que jamais ocorre,

O fantasma ébrio que me assusta.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 22/07/2014
Código do texto: T4892252
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