Grito

Tudo vai mal.

Nada é mais perto do que estar longe.

Meio deserto, meio certo.

Casa após casa, gente vagando.

Tanto aqui quanto além, nada mais me interpreta.

Não me iludo.

É o mesmo corpo caído, meus olhos ainda são assim.

O que vai dentro é que tem sido tentativa e erro.

Mais erro que tentativa, confesso.

E quanto erro tem sido feito de acaso eu já não me lembro.

Só me ocorrem agora os desvios de consciência.

Eu canto e não ouço meus ecos.

Tanto perigo, tanto desencontro.

Tudo vai mal.

Desigual como antes, admito.

Mas cada vez menos profano.

Cada vez menos sagrado, menos doente.

Cada vez menos sutil, quase perceptível.

Já não falo nada no silêncio.

E era na ausência que me fazia presente.

Agora não me subtraio, não luto.

Luto pelo meu ideal.

Luto.

Menos vínculo e cada vez mais consequência.

Pouca causa, tudo estranho.

A vida vai perdendo as estrofes, não há pausa.

Ninguém se interrompe, é sempre um passo após o outro.

O Sol não me ensina mais a existência do dia.

E é noite. Noite e noite, mais e mais.

Eu grito e encubro vontades.

E grito, sem me escutar.

Grito e sou rouco, grito e não grito.

Olho pelos cantos e enxergo tantos de mim por todos os lados.

Desilusão agora, mais do que nunca.

Sem mais nada, sem trabalho, sem tristeza.

Sem lucidez, inúmeros caminhos, continuo tropeçando pelo centro da cidade.

Caí. Parei.

Caímos. Morremos

Morre conosco toda a verdade do engano.

"Cada louco é um exército."

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 24/07/2014
Reeditado em 24/07/2014
Código do texto: T4895415
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