Da série mulheres que passaram IV

Tânia

Procurei no espaço infinito inspiração para meus versos,

em cada estrela procurava uma rima

em cada constelação tentava formar estrofes,

em vão me perdi em inúmeras nebulosas.

Fui ao fundo de todos os mares

e nas cores de todos os peixes e corais

busquei o milagre multicor da poesia,

fui arrastado por várias correntes

e senti o gosto de sal na minha boca de declamar sonetos

em vão naufraguei nos incontáveis oceanos.

Me recolhi no seio de florestas virgens

e tentei arrancar da seiva das árvores

o alimento para meus devaneios poéticos

mas os troncos seculares permaneciam em silêncio.

Meu espírito imaturo não interpretou esta quietude,

ignorou o canto dos pássaros,

perdeu-se me meditações inúteis.

Em vão embrenhei-me no verde das matas.

Pensei em não escrever mais poemas

e cabisbaixo caminhava pela noite escura,

sem estrelas, sem luar, sem o sussurro das ondas

e sem o frescor da brisa das matas.

Cansado da busca repousei minha tristeza

e dormi um sono sem sonhos.

Mas uma estrela riscou o céu e disse-me:

- Procure um cabelo com o negror da noite.

E as ondas do mar completaram:

- Tente encontrar lábios da cor do coral.

As árvores da floresta pareciam me dizer

- Existe um par de olhos com o verde de todas as minhas folhas.

Onde encontrar tanta beleza assim?

Perguntei ao mar, aos céus e as criaturas da floresta e da noite.

Mas não estava aí minha resposta.

Onde então? Perguntei novamente aos ventos

e o silêncio deu-me a resposta,

depois de muita meditação

encontrei você dentro do meu coração.

(Juiz de Fora, entre 1981 e 1982 – Excessivamente pueril)