instrumentos de guerra

uma coruja

voou sob os céus

dessa casa

curioso

colei meus olhos

na janela

e pude ver a coruja

a me encarar

com elegância

emergindo seus imensos olhos

cor de lua

iluminando

o evasivo ser

que eu era

tentei

regressar a cama

falhei

a coruja permaneceu voando

e num cuidadoso descuido

acabou pousando

no telhado do meu vizinho

um velho de setenta anos

que faz a esposa de escrava

coloquei

esses olhos

de volta a janela

e pude ver

um objeto passivo

paciente

passante

esperando algo

parado

absolutamente nada

sem perguntas

uma questão de

sabedoria

uma espécie de não-ser

não-fazer

existir, apenas

e eu?

bem,

eu não conseguia dormir

desisti daquilo

liguei o computador

carreguei um vídeo

escutei

alguma música

lembrei de algo

que não deveria ser lembrado

fiz um sanduíche

enrolei um cigarro

e escrevi

sobre uma simpática

coruja

que perambulava

pela

madrugada carioca

cristiano rufino
Enviado por cristiano rufino em 02/08/2014
Reeditado em 02/08/2014
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