instrumentos de guerra
uma coruja
voou sob os céus
dessa casa
curioso
colei meus olhos
na janela
e pude ver a coruja
a me encarar
com elegância
emergindo seus imensos olhos
cor de lua
iluminando
o evasivo ser
que eu era
tentei
regressar a cama
falhei
a coruja permaneceu voando
e num cuidadoso descuido
acabou pousando
no telhado do meu vizinho
um velho de setenta anos
que faz a esposa de escrava
coloquei
esses olhos
de volta a janela
e pude ver
um objeto passivo
paciente
passante
esperando algo
parado
absolutamente nada
sem perguntas
uma questão de
sabedoria
uma espécie de não-ser
não-fazer
existir, apenas
e eu?
bem,
eu não conseguia dormir
desisti daquilo
liguei o computador
carreguei um vídeo
escutei
alguma música
lembrei de algo
que não deveria ser lembrado
fiz um sanduíche
enrolei um cigarro
e escrevi
sobre uma simpática
coruja
que perambulava
pela
madrugada carioca