PERDEMOS

Foi numa confusa aurora,
de infinitos matizes
trazidos pelas janelas
entreabertas.
Todas as inúteis cicatrizes
romperam as tênues curas
e se submeteram à hora
do desespero que havia nelas.
Nem mesmo descobertas
havia. Somente procuras.
Ficamos ali, estupefatos.
Não havia passado nem destino.
Um trem seguia para o norte
e nós seguíamos os fatos,
alheios a qualquer sonho.
Perdemos, ambos, a infância.
Eu, muito mais que o menino,
perdi o que havia de sorte,
de auto-estima, de elegância.
O que perdeste, não sei, suponho
fantasias, diversões, a festa
de quinze anos. Perdemos,
mais que tudo, pedaços de vida.
Na passarela de luzes, a estrela da testa,
a adolescência toda repartida
em cacos. Perdemos o que nem sabemos.

 
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 13/08/2014
Reeditado em 25/11/2015
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