O MISTÉRIO DA BAGA
 
No caminho, uma baga de cigarro
rolava ao sabor do vento
com sua marca de batom.

A cena um tanto prosaica,
logo me trouxe à memória
a pedra do mestre Drummond.

Quem ali teria jogado
no seu caminhar apressado
aquele resto de prazer,

Uma loura doidivana,
uma morena atraente,
uma negra provocante?

Teria sido Adalgisa,
que em duas se desdobrava,
para melhor agradar os homens

Ou a moça-fantasma de Belô,
cansada de esperar o carro
na madrugada da Rua do Chumbo?

Quem sabe, a casta Luísa Porto
que sumiu sem deixar rastro
a vagar na poeira do tempo

Ou Sonia Maria do Recife,
a mulher fosforescente
que em nuvem se transformou?

Não sei, mas aquela baga 
errante ao sabor do vento
não me saiu da memória.

Foi como me deparasse
com a pedra do mestre Drummond
e as musas do seu caminho.


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Incorporo com prazer a interação da poeta Reinadi Sampaio:



E A BAGA SEGUE SERENA... REINADI SAMPAIO
 
“O mistério da baga”...
Diz-me como não pensar

Tal prazer rememorar –,
Imaginosa tragada...
 
Se negra, loira, morena
A imaginação rola
De poesia se desenrola
E a baga segue serena
 
E tem nomes... sobrenomes
As presumíveis donzelas
Que a baga nos lábios delas
Encantou todos os homens!
 
Sem esquecer-se do nome
Que causou tal polêmica
Essa baga por excelência
Traz um nome de renome
 
O Senhor Drummond de Andrade
O poeta do “Mundo Grande”
Neste  “Recanto” e instante

Fez duma baga pela cidade
 
A mais bela dama errante!
Que se elevou ao espaço
{Espiral de fumo baço},
Cativando olhar amante.
 
Essa baga, foi prazer enfim...
...Pesadelo dalgum sonho...
De cor rubra eu suponho
Qual ao batom “Rouge carmin”!
 
Ah, uma baga, um espinho...
Uma “Dama de vermelho”

Tragando diante do espelho
Nova pedra do caminho!
 
Se o Poeta vivo estivesse
Elucidaria o desafio?
“Tinha” ou “havia” ao meio fio
– Uma baga se houvesse –?...