Carro de boi

Euna Britto de Oliveira

Dizem que boi sonso, a marrada é certa!...

Dois bois castanhos e mansos

Puxam um carro supostamente carregado de cana,

Mas, na verdade, é saudade que transportam,

São saudades superpostas...

Verde e súplice, um louva-a-deus equilibra-se

Na lembrança de uma folha de capim,

Numa curva do caminho...

Viajar em carro de boi é lento e lúdico!...

As rodas vão moendo as distâncias

E produzindo um som que não chega a ser música,

Mas agrada.

O arranjo do instrumento improvisado pelas rodas

É mais que medieval,

Ancestral...

Conforme a estrada, pequenos solavancos

Embalam eventuais passageiros.

Submissos, debaixo da canga,

Seguem os bois pela paisagem...

Lambem o sal do cocho,

Sacodem a cauda e as orelhas, para afugentar as moscas...

É dia de vacinação,

Bate a cancela,

Fecha-se o curral.

Fecha-se um ciclo em que se fazia tudo igual!...

Agora é hoje,

Ontem foi seu rival,

E o futuro é pontual!...

Comecei em cavalo manso,

Andei em carro de boi, para, enfim,

Ganhar estradas

Em rodas mais turbinadas...

Ô paciência de Deus!

Quantas camadas de magma para fazer uma montanha?!...

A montanha que eu, eterna escolar,

Bem devagar, devo aprender a escalar!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 19/05/2007
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