MILÊNIOS

Acordem nossos meninos.

Nossa partida pela madrugada urge.

Nesta manhã não haverá mais escolas.

Aulas de chumbo serão cuspidas nas calçadas,

esquina após esquina

Nunca fizemos mal algum,

mas não houve quem ensinasse a lição de hoje,

que pela manhã eles precisarão saber de cor.

O vapor de nosso folego confunde-se na neblina,

na densa névoa de uma história que se repete indefinidamente,

onde lanças e espadas perfuram e fragmentam

o que se solda com magmas-decretos e o que se putrefaz.

Ainda assim iremos avante,

argonautas sobre Tróia.

À grandeza e ao domínio

seguem queda e escravidão.

Impérios que um dia foram,

colônias hoje são.

Estas nascem por conquistas,

outras por vocação.

Tronos, coroas, cetros e sinetes.

De mãos em mãos perpetua-se o jogo num circuito fechado.

Súditos mutilados por milênios rastejarão ainda.

Pernas rendidas arrastando bandeiras rotas,

umas sobre outras dispostas sobre o fogo.

O que hoje fizermos, na incerteza o faremos,

sem saber ao certo se amanhã fará algum sentido.

Mas não sejamos tão trágicos e impiedosos conosco

que não possamos deitar e pegar no sono

assim que anoitecer sem qualquer estrondo,

como fizeram tantos outros antes de nós

e que, provavelmente,

já não contavam com uma geração mais jovem.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 26/08/2014
Reeditado em 05/09/2014
Código do texto: T4937535
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