Contravento

Vagos sinais de sons

que me atraem,

palavras ímpares.

Entre paredes

de um concreto

invisível,

um acerto de contas

vulgar: repasso

os passos que dei.

Através das lentes

de olhos vazados,

a paisagem derrete

seu desenho selvagem — nada brilha

por luz que não seja

o fogo.

A sorte queima

suas fraquezas

em cinzeiros de

bares, entre

copos

lágrimas

promessas.

O frio viola

as linhas dos mapas,

invade meu estado

de espírito — culpo deuses inventados,

aberrações outonais.

Seqüestro as sobras de tempo

de minutos abandonados: mendigo das horas,

sobrevivo de instantes não vividos,

mortes anunciadas.

Sob uma cegueira de luzes geladas,

carimbando meu passaporte

em desertas fronteiras mentais,

sigo,

porque minha única certeza

é andar.