Musa
Com o toque dos teus lábios carmins
Que eu esqueça a carestia
Invernosa e fria deste jardim.
Então vem, musa, com teu corpo
De tundra me inunda de umidade
E abunda a humanidade em mim,
Já que herdei dos antepassados
Todo o sono dos séculos,
Vem com as tuas fendas obtusas,
Vem, musa, e me lambuza
Com o tempero do mar,
Com o cheiro do ar,
E me envolve com tuas sedas
Dá-me cor, dá-me amor e um espelho
Pra que eu me veja com olhos alheios
E possa conhecer uma imagem afim.
Vem, musa, apresenta-te assim
Confusa, e rega minha pele suja,
Suada de tanta luta. E puta,
Musa, suga de mim a loucura
E me ensina a viver com o coração
Remendado, mostra-me a ternura
Das estruturas de afeição
Vem, musa, e sem véus revela
A tua onírica perfeição!