Represália

You're not that strong, my Lord".

Seu verso partido atravessou as gerações.

Seduziu, conquistou.

Matou-se além da morte, rezando as cartilhas do teu tempo passado.

E por morrer além da morte, refiro-me ao fim da eternidade dos sentimentos puros.

A superposição da norma destruiu as melhores noites.

Desmantelou a sorte.

Fez sobreviver ao tempo e criou subexistência.

Subsistência faria mais sentido.

Mas qualquer homem sabe que não é de sentido óbvio que se é obrigado a viver.

Só se é permitido permanecer se a criança denota interesse pelo sentido não óbvio, pelo presente construído.

No deserto de regras do tempo total, a exceção é trabalho dos irreais.

Talvez seja esse o motivo de tantos desertos.

Em oposição, erguem-se represas.

Metaforicamente, as águas tranquilas, se barradas, escondem sob a superfície a vida incipiente, facilmente esmagada.

Os grandes seres orbitam soberbos, além do espelho d'água sereno.

Sua fala afogou os muitos.

Mal sabem todos vocês que seu próprio palácio é também seu próprio túmulo.

E presente esse, represado, talvez não tarde a irromper o inabalável concreto que vela os inúmeros desgraçados maravilhosos que lá habitam.

Maravilhosos maravilhados.

Tanta palavra e pouco trato ameaça a sanidade dos conscientes.

Justificando a eficácia organizacional de uns, unidos por sabe lá quantas cédulas.

Se finitas, rompem-se os laços.

Se contínuas, prosperam as artificialidades e a escravidão que, tal como a água, esmaga aqueles opostos em profundidade.

Pois criem-se enormes construções para os possuidores de tudo.

Quanto maior a estrutura da realidade, maior o sonho de derrubá-la.

E, tal como represas, sonhos são forças que, quanto maiores forem, afetam áreas exponencialmente significativas.

Ancorem sua justiça em algum porto seguro.

Quando tudo for água, não haverá lei que controle seu curso.

Haverá o rastro da destruição latente.

E o que antes era profundeza esquecida, sera superfície outra vez.

Seus preceitos represeram o presente.

Porém, tenham certeza de que muro algum cerceará o futuro.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 13/09/2014
Código do texto: T4960825
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