SEGREDOS
Ah! Você quer que eu lhe conte segredos
Porque sabe que eu tenho muitos
Segredos meus e também dos outros
Todos ocultos a sete chaves
Que se revelados ainda que à noite
Deixarão de ser segredos
E se tornarão banalidades.
Quando o vento no meio da rua
Levanta a saia de uma linda mulher
Ele desvenda ansiados segredos
Que se gravam para quase todo o sempre
Na memória e nos sonhos daqueles homens
Que ali estavam e puderam olhar.
Houve meninas lá em tempos idos
Desabrochadas quase em mulher
As quais noites e noites em secretos diários
Transcreviam tudo, tudo, tudo
Que às claras jamais poderiam dizer.
A vontade de entrar no escuro irrevelado
Com uma vela bruxuleante na mão
Perscrutando, adivinhando, errando,
Inventando violações terríveis
É a vontade de sair de um pesadelo
Que só o sono profundo pode espantar.
Houve um tempo em que as mulheres
Nascidas e vividas em cidades minúsculas
Após as tarefas do dia e já no entardecer
Quedavam-se debruçadas nas janelas
Vendo os passantes e o passar do tempo
Na ânsia de segredos ainda indivulgados
Para divulgá-los como num incêndio
Que quase sempre nasce apagado.
É melhor ser padre num confessionário
Para ouvir e perdoar os secretos pecados
De mulheres e homens atormentados
Pelo remorso, pela culpa e pelo temor
De não poderem entrar no paraíso.
E melhor ser psicoterapeuta
Que cobra caro para ouvir os alheios segredos
Pois os amigos se ausentam
Para escaparem das angustiadas confissões
Que começam e terminam invariavelmente
Com um “Por favor, não conte prá ninguém”.
RODOLPHO