SEGREDOS

Ah! Você quer que eu lhe conte segredos

Porque sabe que eu tenho muitos

Segredos meus e também dos outros

Todos ocultos a sete chaves

Que se revelados ainda que à noite

Deixarão de ser segredos

E se tornarão banalidades.

Quando o vento no meio da rua

Levanta a saia de uma linda mulher

Ele desvenda ansiados segredos

Que se gravam para quase todo o sempre

Na memória e nos sonhos daqueles homens

Que ali estavam e puderam olhar.

Houve meninas lá em tempos idos

Desabrochadas quase em mulher

As quais noites e noites em secretos diários

Transcreviam tudo, tudo, tudo

Que às claras jamais poderiam dizer.

A vontade de entrar no escuro irrevelado

Com uma vela bruxuleante na mão

Perscrutando, adivinhando, errando,

Inventando violações terríveis

É a vontade de sair de um pesadelo

Que só o sono profundo pode espantar.

Houve um tempo em que as mulheres

Nascidas e vividas em cidades minúsculas

Após as tarefas do dia e já no entardecer

Quedavam-se debruçadas nas janelas

Vendo os passantes e o passar do tempo

Na ânsia de segredos ainda indivulgados

Para divulgá-los como num incêndio

Que quase sempre nasce apagado.

É melhor ser padre num confessionário

Para ouvir e perdoar os secretos pecados

De mulheres e homens atormentados

Pelo remorso, pela culpa e pelo temor

De não poderem entrar no paraíso.

E melhor ser psicoterapeuta

Que cobra caro para ouvir os alheios segredos

Pois os amigos se ausentam

Para escaparem das angustiadas confissões

Que começam e terminam invariavelmente

Com um “Por favor, não conte prá ninguém”.

RODOLPHO

MILIPA e Rodolpho
Enviado por MILIPA em 14/09/2014
Código do texto: T4961464
Classificação de conteúdo: seguro