Sou do tempo

Sou do tempo

Sou do tempo em que Selfie era foto 3 x 4

Havaianas eram para os pobres e trabalhadores

Um telefonema servia para resolver problemas

Um carro para mostrar aos amigos: “esse é do meu pai”

Sou do tempo em que havia tempo prá tudo

Conversar na varanda, contar piada, ir ao Maracanã sem medo

Sou do tempo em que o medo estava escondido no imprevisto

O ladrão era até camarada e poderia te reconhecer na pelada

Os olhos eram para ver outros olhos e admirar belezas

Sorrisos verdadeiros, a cara limpa, a moça bonita por natureza

Academia para os fisiculturistas, fortões das praias, exceções

Ser machão era ato de baixinho folgado, chutando a canela do grandão

Não tinha cinto de segurança, nem a palavra segurança: só o conselho de mãe

As doenças matavam com rapidez: a foice da velha afiadíssima, corte preciso

Dieta para os doentes, comida sem remorso, colesterol? Nome de xarope?

Beijo de mãe passava a dor, conselho de amigo sempre, havia amigo

Sou do tempo que dormia no ônibus e me acordavam no ponto final

Na praia virava camarão, sentava na esteira, usava pomada minâncora

Sp2 não era símbolo matemático e sim supositório de FNM

Trepar podia-se, mas o risco era tão grande e chamava-se tesão

Hoje vivo sem tesão, em frente da televisão, andando num carrão

Passeando de avião, hemorroidas de montão, remédio pro coração

Dinheiro não conto não! Não toco mais violão, do pau falo não!

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Socorro !!!!! Cadê meu amigo, meu irmão, o negão da pelada?

Chamem o ladrão !!!!

Roberto Solano
Enviado por Roberto Solano em 29/09/2014
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