O ARRANHA-CÉU

Vejo um edifício crescer

em frente da minha janela

Cresce rápido, não como as plantas,

não como as árvores que precisam

de água e luz e do lento passar dos dias

para crescer vagarosamente

O edifício sobe rápido,

cresce ligeiro com o movimentar

dos homens — cada um no seu afazer:

a subir, a descer, a andar para um lado

e para o outro, a bater estacas,

a espalhar concreto, a apertar parafusos

Um gigantesco guindaste

facilita a tarefa: suspende

vigas de aço, feixes de madeiras,

vergalhões moldados, tiras de teipes,

caixotes, caixinhas e caixões,

pesos indecifráveis de mistérios

Cada dia que passa, um pedaço

de sol se esconde, uma faixa de lua

desaparece abandonada,

o azul do céu se apaga

para dar lugar a andares tolos

que esconderão segredos

O edifício sobre ligeiro,

voraz, faminto e sufocante

com pressa de ficar mais alto,

com gana de dominar o mundo

com a arrogância da obra do Homem

sem medo de arranhar o céu

© Fernando Tanajura