Mãe

Quando ela me pergunta

“Por que o mundo é triste?”

Eu, triste, me percebo nela

Nos olhos perdidos, indecisos

Incompetentemente, insisto

Vou o mais fundo que posso

Buscar pra ela algum sorriso

Nesse tão fundo de poço

Mais um fracasso! Desisto!

Peço perdão a ela em silêncio

Por ser, irredutivelmente, eu

Tão eu, e tão meus, o sentidos

Que ela tem vivido nesses dias

Que passam por nós, tão pós

Tão asmáticos, mal vividos

Disfarço alguma urgência

Saio pedindo a ela “licença”

E afogo a mágoa, fingindo ser sede

Um copo d’água, pra ela um de leite

E o silêncio volta, e paira pálido

Polindo o tempo, peculiarmente

Com uma lixa de lixar parede

Lembrando a aspereza da pele

Cortada pelas dores da gente

Feito um pai desempregado

Eu fico ali, vendo um filho doente

Sem palavras, apenas permaneço

Pois só sei, por ora, estar por perto

E aquele aperto, um sufoco

Pedindo que tudo pare no tempo

Que o tempo pare de jorrar

Minutos que vão com o vento

Que não aliviam, e não voltam

Só marcam em nossas memórias

Os pensamentos desses momentos

Que quando passado, só serão

Mais um motivo ilusório do que

Poderiam ter sido bons momentos

Quando ela me pergunta

“Por que o mundo é triste?”

Ela percebe que sou como ela

Nos olhos perdidos, indecisos

E, naturalmente, resiste. Se cala!

Mas eu queria que ela soubesse

Que se pudesse, faria tudo

Pra resgatá-la dessa cela

Pois minha tristeza é nada

Quando eu percebo a dela

&lis*

11/10/14

editado 20/06/18

Elis Maria
Enviado por Elis Maria em 11/10/2014
Reeditado em 20/06/2018
Código do texto: T4995355
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