Luzes tortas a dois

Nasce também nesta noite

claridão dissonante

Vermelha como o cego

que trouxe o absinto

Incômodo teor das janelas

O frescor inesperado das navalhas

Água fria que abate

a náusea tão íntima da luz

Desaconselham-me a escutar a voz

E manter fixos na lua meus olhos

Mas ela se desmancha como hóstia

Na boca de um diabo

Das cartas não me livrei

Rasguei-as, mas permanecem

Palavras ainda perseguem

Caindo na água

Deitado na relva

No alto da escada

Ainda as vejo

Em chamas, em chamas

Me chamam!

O rosto que se forma

O rosto que não fala

Não diz e não cala

Revela o mais grave: que sente!

O chá do caminho

Que a rua reserva

Alimenta a selva de

minha e tua alma

Estampido das lágrimas

embaladas em fumaça

Sejá lá o que eu faça... permanecem

Calor de meu peito baldo

Breves signos do pesar

Da concha que não protege

empunho as flores que queimam

Mais forte é o calor da febre

Calúnia impudica da sorte

Nem queiram saber enxergar

As luzes que resistem

e cruzam as curvas da dor

Um outro erro apresentam

em cores obscenas da forma

No intento, a verdade não mais

O grito sincero no frio

Elástica nas aparições

Noturno segredo acorda

Quão belo é o passado

do lado de quem satisfaz