A cigana


Um dia, ao caminhar pelo mundo, sem rumo,
Sentindo-me contrafeito, tendo a pulsar no peito,
Este eterno coração de menino, meio sem jeito,
Encontrei uma cigana que, afinal, me deu o prumo.
E ela tomou-me a mão entre as suas, macias,
E falou-me de meu passado, de toda minha vida,
E, mais ainda, de meu presente e futuro, atrevida,
Ao me descrever e prognosticar em suas profecias:

Não te enamores de mulher que leia cartas, jamais,
Ou da que conclui por sua intuição, são perigosas,
evita as que escrevem poesias dolentes e airosas,
ou qualquer outra leitura de que tanto gostes mais.
Não te enamores de mulher culta, delirante, louca,
Ou de uma mulher que pensa, que se ensimesma
E sabe que sabe voar, mulher segura de si mesma,
E conhece as próprias dimensões, muitas e não poucas.

Não te enamores de qualquer mulher que ri ou chora
Ao fazerem amor, que sabe converter em espírito
tua carne, que ame a poesia, que te leve ao delírio
e bem menos de quem te faça rir (é a mais perigosa).
Não te enamores de uma mulher que passe horas
A contemplar um quadro, ou que, sem a música
Não saiba viver, e que se torne, enfim, confusa,
Ante as tantas injustiças desta vida de agora.

Não te enamores, nunca, de uma mulher que, bela,
Não se importe com tua cara, teu corpo ou aparência,
Pois saiba que esta bela mulher, com sua essência,
Fará com que jamais a deixe, e te tornarás escravo dela.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 15/10/2014
Reeditado em 23/10/2014
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