O que os pássaros têm

Aqui estou novamente

Mas de asas não irei falar

Quero algo mais surpreendente

Ainda se trata de poder voar

Todos precisam de um tempo

Uma caminhada solitária

Uma rede, um alento

Simplesmente de uma pausa

Ao abrir a janela no calor do recinto

A brisa entrou com deliberação

Não foi um incentivo

Chamo de inspiração

Ansiei por vencer a gravidade

Suspirei pela saída

Clara impossibilidade

Pois é assim a vida

A gente não sai por aí quebrando a lógica

A lógica nem sempre cede aos nossos desejos

Mas a verdade não é tão óbvia

Pra quebrar limites temos vários jeitos

Pensando bem, "asa" é "poder voar"

Minha asa é sonhar em tê-la

Eu sou poeta, posso imaginar

Essa liberdade que não me aceita

Se me aceitasse eu pararia aqui

Talvez ficasse na satisfação

Porém poesia não sabe o que é fim

Não sem a devida exploração

No fundo é por causa do alívio

O de estar livre do chão

Ver mais de perto o infinito

Um ar mais puro para o pulmão

Enquanto humano e não fictício

Me contenho em contemplar

Essa noite que não é o início

De um seguimento sem poder voar.