UM MOMENTO ENTRE NOITES E DIAS

você chega sem ensaio do tempo e fala com jeito presente,

num corpo de memórias, desajeitado.

O encontro inesperado revela palavras inquietas como as águas marinhas mexidas pelas correntes das profundezas.

Palavras que pesam os momentos silenciosos,

como o balanço do mar entre intervalos das ondas.

Surgem frases desencontradas,

irregulares como nesse poema,

sobreviventes dos seus olhos que se afogam

e despencam lágrimas que acudo com meu copo de culpa

Foram anos onde o amor imaturo vivia

entre noites que nos despiam

e dias que nos despedíamos.

Noites que acalmavam as dores e os medos nascidos nos dias.

O destino plantou,

o tempo apressado brotou o amor sem paciência,

mal nascido, mal acabado.

O calor da alegria se esvaiu,

pois guardávamos apenas a lua que nos unia

e escondíamos o sol que nos traía.

Entre juvenis pétalas arrancadas de bem-me-quer e mal-me-quer,

a flor se revelou um botão.

E um adeus se fez presente do passado,

onde guardávamos corações de primavera

e que agora, nos revelava os olhos de outono.