Mais Que Um Poema

Não me fales de incêndios da alma,

Nem da linguagem dos amantes.

Antes, prova dos meus olhares

Do amor que só se sabe em ti.

Já me disse incontida, desmedida,

Quando sequer te percebes em mim.

Deixa que me confesse inteira,

Muito além da voz que supões.

Estou farta de emoções sussurradas

Pronunciadas no peito como cristal

Quero-te antes de qualquer palavra

Na entonação que apenas tu adivinhas

Não me digas de qualquer alvorecer

Onde não me trazes o sol, a ternura.

São teus olhos que me despertam

E me oferecem o aroma da vida.

É a doçura inquieta das tuas mãos

Néctar que veste os meus sonhos.

O dia que vejo é este em que me tomas

Quando vens antes de mim e dos sentidos

Quando me confidencias tuas saudades

E os caminhos em que me levaste

Em tuas ausências consentidas.

Não me fales de aritméticas

Dessa memória incisiva do tempo.

Meu coração desconhece algarismos

E contagens que afastam e distanciam.

Prefere-se a juntar passos, estradas

Desaprendeu dos números, da lógica

Entende-se somente em interseções

Compreende que pontos podem ser ligados

E assim, abraça-se descobrindo retas

Somando urgentes encantos e afinidades.

Não pressuponhas as rasuras de minhas dores.

Nada sabes dos abismos dos meus silêncios,

Quando o sentir é açoite pelo não expresso.

Tenho marcas palpáveis, cuja agonia e soluço

Só me sabe o escuro em que mergulho.

Apenas adentra as portas que te abro.

Anda devagar, como se deitasses em pétalas.

Não me peças para diluir na taça do impossível

Os sonhos, os desejos, os tolos tremores

Que transbordam insones em luas prateadas.

Não me ofereças o véu do comedimento

Para cobrir a alma, a carne, os sentidos

Sim, continuarei a te fazer versos,

Ainda que te conjugue imperfeitamente

Neste meu desassossego de letras,

Tropeçando em rimas, ébria de metáforas.

Mesmo que não alcance o lume dos teus sonhos,

A profundidade do que tua alma abriga,

Deixarei o eco deste amor que me guia

Na fragrância do dizer da minha poesia.

Bebo-te nesta taça até o último trago

Onde vezes te derramas quase meu...

Fernanda Guimarães

www.fernandaguimaraes.com.br

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 13/09/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T50142