Gritos de véspera na ilha em coma

Canta, a rosa, tenta voar

Balança no ar, move-se suave ao vento

Tenta voar

Linda, bela, solta, viva, canta

E então percebe

que não pode voar

Está presa

Rosa real vive

como se de plástico fosse

Faz sombra em si própria

escurecendo o vermelho do corpo

Observa, então

Voa quando enxerga somente

Flutua distante vendo

Canta para não ser

Do admirador próximo

Voz embargada emprestada

Quebrada, indesejável

Olhos impedidos pela água

Ouvidos fechados inúteis

Ficam folhas secas quadradas

entre a nova voz distorcida

e a deturpada rosa

Beijam as folhas que voam o vôo breve

de cair já mortas no chão

que não acolhe mesmo a água

Canta, o tolo

porque algo vai acontecer

A estreiteza de horizontes

do insuportável lugar...

habitado!

“Olá, bloco cinza!

Bom dia, sonâmbulos!

Querem voltar?

Uma luz para tocarem e queimarem-se, aceitam?

Um novo ângulo da paisagem brusca

vendo deitado, agonizando, gostariam?

Olá, dona das tetas verdes que

alimenta este parco mundinho com o pus materno!

Enterre-se no poste!

O mundo cresceu, dona mãe-égua!

Ele já sabe se alimentar sozinho agora. Adeus”.

Andam moluscos

Desmoronam-se os lares

Desfazendo esperança

para poderem ser feitos os cacos!

Cachoeira de pedras e moluscos!

“Aprumem-se para serem atingidos vendados!”,

(canta ainda o tolo)

O refresco do calor do amargo de uma

poça antiga de sangue.

E nada vos abala, ainda assim!

“Nada vos alegra

além do som do grito grave

de suas próprias entranhas?”.

Voa rosa, vê! Canta, tolo, tenta!

Laço vermelho

Rosa vermelha

Estaca vermelha

Poça vermelha? Quase não mais.

Baixa a voz do tolo, abala o corpo a rosa

Cessa cachoeira, pedras enquadradas

Pedras grandes vibrantes do chão para o alto

E presas novamente.

Tão velozes quanto o vai-e-vem

dos corpos indiferentes

Tão duras e tão presas quanto a rosa.

Tão silenciadas quanto a voz do tolo

no fim do espetáculo